Li essa matéria achei legal postala,conheci esse taxista realemente ele e a maior comédia..
anota o tel dele ai,xitom (65-8443-3255).
Eu, o taxista, a minha inveja e a Copa de 2014
Por Guto Dobes
Circula na internet o e-mail abaixo. Adorei seu conteúdo por isso postei. Parabéns Guto Dobes pela sinceridade!
Por ocasião do trabalho, todo sábado viajo para Cuiabá. Faço isso há um ano. Domingo estou de volta. E, como é mais conveniente, pego sempre o mesmo táxi do hotel até o aeroporto Marechal Rondon. O motorista é um bonachão, sujeito boa pinta, “Uóshito”, é como ele se apresenta. Humilde, mas muito educado e “antenado”.
A cada fim de semana ele me trazia uma notícia quentinha, que segundo ele vinha dos bastidores, sobre a tão falada disputa entre Campo Grande e Cuiabá, para ver quem seria escolhida como uma das sub-sedes dos jogos da Copa do Mundo de 2014. “Um especulador e tanto”, pensava eu.
Do mês de abril para cá, as falas do “Uóshito” foram ficando mais densas, cheias de informações contundentes. Dependendo do final de semana, o meu companheiro de trajeto até o aeroporto estava - como diria um amigo meu - mais feliz do que porco solto. Numa dessas ocasiões, entrei no táxi e, sem nem ao menos cumprimentar-me, ele disparou: “A gente já vai ter que estudar espanhol e inglês, patrãozinho. Ordem do secretário de cultura, que chamou 400 taxistas lá ontem pra dizer isso...” e emendou: “a copa já é nossa.”
Dali pra frente ele me deu um show de informações, todas dando conta de que a decisão já havia sido tomada e que Cuiabá, em silêncio, sem bravatas, sem comparativos, despida de empáfia, mas sobejamente coberta de orgulho, se preparava para receber o maior evento do planeta. E eu sempre desconfiando: “não pode ser, ele é apenas um taxista.”
A última foi há quinze dias, quando disse que havia acabado de falar com um “chegado” dele em Brasília, que confirmou “cem por cento” que a Capital do Mato Grosso havia ganhado a tão sonhada vaga. Dessa vez fiquei mais silencioso, até meio bravo. Para mim ele tinha ido longe demais. “Gente de Brasília, que tem uma informação dessas, não fala com um taxista; só com prefeitos, governadores, deputados. Ele sonhou tão alto que fez parecer que era verdade. Coisas de quem quer muito alguma coisa.”, pensei, cá com meus botões.
Porém, quando cheguei a Cuiabá neste sábado, deparei-me com uma cidade feliz, pronta para a festa. Comecei a pensar que aquele simples trabalhador tinha mesmo as informações. Não era uma preparação cercada de dúvidas, como foi a nossa, que contou com um par de tendas e uma suposta euforia para receber a notícia. Eram 11 diferentes pontos da cidade, cobertos com decorações, shows de artistas locais sendo ensaiados, telões imensos, festas de fogos de artifícios. Tudo arrumadinho. Nada de obstáculos, só certeza.
E não deu outra: Quando Joseph Blatter anunciou o nome de Cuiabá, a hell city, como é conhecida por seu clima de altas temperaturas, explodiu. Foi a certeza da certeza.
Como de costume, mais tarde tive de encarar o taxista adivinhão. Já fui preparado. Quando saí do hotel, uns três “Uóshito” vieram me receber. Isso mesmo, ele estava tão cheio de si, que nem parecia um só. Senti uma pequena pontada no peito. Era ela: a inevitável inveja. Doeu só um pouquinho, afinal, ver aquela figura tão feliz, contagiava.
No trajeto ele foi enumerando: “Tá vendo esse cruzamento aqui, patrão? Vai ser duplicado agora.” Outra pontada. Eu só pensava em chegar logo ao bendito aeroporto: “Podia ser a minha cidade”. Nem bem eu havia me recuperado e veio outra: “ó, patrãozinho, aqui vai mexer tudo, vai ter um viaduto, vai melhorar o trânsito”. Machucou de novo, mas ele não sossegava: “o comércio vai ganhar muito, muita gente nova vai chegar aqui, grandes empresas. Agora sim, nossa cidade vai ficar ainda melhor. O sr. vai até querer mudar para cá de vez.” Essa perfurou a alma. Eu não sabia que inveja doía tanto.
E assim fomos: eu, quieto, sorriso amarelo, me contendo pra não deixar o desgosto transbordar e ele, enlouquecido. Falou-me sobre pelo menos 15 obras que já sabia que seriam feitas, inclusive a que vai triplicar o tamanho e a capacidade do aeroporto. Não duvidei de nenhuma, nunca mais duvido dele.
Voltando a Campo Grande tive a certeza de que Cuiabá merecera o resultado. E que nossa grande falha foi menosprezar o concorrente. O grande erro foi achar que com um plano feito às pressas poderíamos assim, de assalto, vencer um projeto que teve pelo menos dois anos de preparação. O maior pecado que cometemos, foi achar que política, ou politicagem, e comparações sem fundamento, podem ganhar todas as batalhas.
Fiquei pensando o quanto nossos políticos são topetudos, grosseiros, indelicados, desagradáveis. Nossa gente, que tantas vezes eu defendi e vou continuar defendendo, dessa vez não teve humildade para compreender que um evento como esse não pode ser ruim. Ficamos o tempo todo fora de foco, querendo meter no meio das discussões nossa falta de segurança, saúde, educação, transporte, etc. Enquanto isso, eles mostravam para o mundo o quanto queriam a Copa lá.
E vou dizer mais, essa derrota terá um gosto amargo que vai demorar a passar. Ainda estamos em 2009 e tudo o que for feito para receber o evento em Cuiabá, continuará em pé, mostrando, por dezenas de anos, o quanto fomos estúpidos.
Eu tenho mais um amigo que, por ser mineiro, diria: “o trem tá feio...”
Ah, e por falar em trem, sabe o pantanal, aquele que a gente começou a lembrar que ele existe só por causa da campanha Copantanal? Pois é, depois dessa, com a repercussão que a Copa trará, ele vai ser mais mato-grossense do que nunca.
Ai, como dói a dor da inveja.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
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